Selic deve se manter em 2% e IPCA apresentar leve alta, aponta especialista

Instabilidade econômica deve afetar o consumo das famílias neste fim de ano e cenário para o primeiro semestre é incerto

Nesta semana serão divulgados os últimos resultados de 2020 do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e da taxa básica de juros (Selic). Após um ano com um cenário econômico conturbado por conta da pandemia, a análise do professor da Fipecafi, Flávio Riberi, mostra que a Selic deve permanecer em 2% e o IPCA deve fechar o ano entre 4% e 4,10%.

Para o especialista, o cenário econômico no primeiro semestre de 2021 ainda é incerto, sendo necessário considerar uma série de fatores. “A ação do Bacen sobre a taxa básica de juros nas reuniões do 1º semestre de 2021 dependerá do comportamento da atividade econômica com a esperada retomada e a taxa de câmbio. Ainda há uma bruma sobre o desempenho da economia nos meses que virão. É possível que haja uma tendência de aumento da taxa de juros no 1º semestre de 2021 por conta da incerteza fiscal e necessidade de rolagem da dívida. Fora do Brasil a pandemia mostrou seus efeitos sob uma deflação enquanto os brasileiros estão sentindo no contato com o dia a dia no supermercado a uma alta em diversos gêneros de consumo. Há impulsos nos mercados globais para a aceleração de preços em 2021 o que trará inflação no contexto internacional”, ressaltou.

Previsão para o IPCA

Considerando os impactos do atual câmbio sobre alimentos e bens industriais, o professor da Fipecafi explica a razão do IPCA ter uma leve alta. “Há um certo consenso de um viés de alta para o IPCA que decorre do aumento dos produtos alimentícios e bens industriais. O índice na série anual com corte em outubro de 2020 alcançou 3,92% e embute as recomposições de preços de produtos que são afetados pela cotação do dólar. O momento indica que, na iminência de uma segunda onda de contaminação da Covid-19, o consumo represado da população volte a fluir, e o índice passe a acompanhar melhor os repasses aos preços com choques temporários após meses com comércio e serviços com baixo nível de atividade e alta ociosidade, de modo a recompor suas perdas e reestabelecer o nível de consumo da população. As projeções divulgadas pelo Ministério da Economia para setembro e novembro mostraram índices para 2020 de 1,83% e 3,13%, o que neste momento confirma o prognóstico de alta”, explicou.

Como será o fim de ano para a economia

Na última semana, o resultado do PIB do 3º trimestre mostrou crescimento de 7,7%, apesar do resultado significativo, as perdas anteriores ainda não foram recuperadas. Além disso, com a incerteza econômica, o tradicional consumo das famílias no fim de ano também deve ser impactado. “A forte recuperação da economia com a divulgação do resultado do PIB carrega uma ilusão: após um ciclo de forte queda, o dito piso de comparação estava em seu subsolo, e, portanto, seria natural compreender este crescimento como algo significativo. Após a primeira onda da Covid-19 no Brasil observamos uma redução de 9,6% do PIB no segundo trimestre, e esta recuperação ainda passa ao largo do nível de atividade no ano para qualificar uma recuperação. O desempenho da Black Friday pode servir como um termômetro do que virá em termos de consumo para o final do ano, que espera-se ser tímido, diante das incertezas na economia e deterioração no nível de emprego” destacou o professor da Fipecafi.

Impacto para os investidores

Riberi também explica que com a taxa básica de juros em baixa os investidores continuam assumindo riscos em busca de rentabilidades mais satisfatórias. “A Selic vem desde junho/2020 apresentando um retorno mensal real negativo e nos últimos dois meses a taxa nominal da Selic alcançou 0,16% a.m. e 0,15% a.m. (outubro e novembro respectivamente), insuficientes para cobrir ao menos o efeito inflacionário. Isso significa que o investidor que manteve recursos em aplicações financeiras atreladas a taxa básica de juros (ou próximas a elas) perceberam rentabilidades reais negativas. Após o segundo mês de rentabilidade real negativa, o investidor, descontente, passa a migrar para outras classes de ativos como o investimento em bolsa e fundos com posições multimercado, aceitando algum risco para aferir melhor rentabilidade”, finalizou.

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